“Quatro estações vamos
celebrar,
Duendes e fadas vêm nos
encantar,
Olhos bem abertos, boca
bem fechada,
Nunca entre no País das
Fadas.
No Samhain, não saia de
casa ao anoitecer,
No Beltaine, o fogo da
vida irá te aquecer,
No Imbolc, o amor
verdadeiro você pode encontrar,
No Lughnasad, abundância
e prosperidade você terá.”
(Canção das Quatro Estações – Katherine Black)*
O antigo
ano céltico era dividido em duas estações: a estação fria, em gaélico giamon, em irlandês gaimred e em galês (do País de Gales) gaeaf e a estação quente, em gaélico samon, em irlandês samrad e
em galês haf. Esta divisão era
aplicada em todo o mundo celta. Cada uma destas duas estações estava dividida
em duas metades, e cada uma delas, dividida mais uma vez em quatro dias e as
noites que os precediam, nas quais ocorriam as celebrações.
Os
celtas das ilhas e da Gália celebravam quatro datas sazonais, todas associadas
com o ano fazendário (de plantio e criação de animais). Eram os festivais dos
picos das quatro estações, chamados pelos celtas da Irlanda de Imbolc,
Beltaine, Lughnasad e Samhain. Celtas de outras regiões davam nomes diferentes
para estas celebrações. E havia, ainda, os celtas que celebravam oito festivais
anuais, que eram as entradas das estações, mais especificamente os solstícios e
os equinócios, além das quatro comemorações ditas acima.
Além destas
celebrações comuns a todos os celtas, existiam no mundo celta antigo os rituais
e festivais locais ou regionais comemorados por determinadas tribos célticas, a
incrementar e personalizar o calendário céltico.
Os
celtas dividiam os meses e “as noites”, pois não contavam os “dias” como
atualmente procedemos, mas sim “noites”. As noites e os meses eram divididos em
“bons” ou “auspiciosos”, chamados de mat,
em irlandês maith, em galês mad, ou “não bom” ou “desafortunado”,
cuja designação é anm,
considerando-se, ainda, que o calendário céltico possuía treze meses lunares e
ciclos de dezenove anos.
A Roda
Céltica do Ano harmonizou as estações com os ciclos lunares. A véspera do
Samhain, que no hemisfério norte corresponde à noite de 31 de outubro, era no
calendário celta a primeira noite do décimo primeiro mês. Entretanto, por
influência cristã, esse dia foi movido para se tornar o último do décimo mês do
calendário gregoriano que usamos até hoje.
Da mesma
forma, os celtas determinaram que as outras três celebrações teriam início na
primeira noite do segundo, quinto e oitavo meses do calendário céltico, os
quais conhecemos hoje como fevereiro, maio e agosto.
Outra
observação interessante é que os celtas fixaram o início do ano na metade
escura e fria do ano, pois entendiam que as trevas precediam a luz. Todo começo
é difícil e é preciso ter força e perseverança para prosperar. Se conseguissem
sobreviver ao frio do Outono/Inverno, alcançariam a bonança trazida pela
Primavera e Verão.
Imbolc
O
Imbolc é comemorado no hemisfério norte em 1º de fevereiro, mas no hemisfério
sul deve ser comemorado em 1º de agosto. É uma celebração de Inverno e marcava
no ano céltico o início da lactação das ovelhas, prenunciando o fim do Inverno.
A
partir do Imbolc, a luz começava a se sobressair em relação às trevas; os dias
tornavam-se mais longos até a Primavera, quando dia e noite se equilibravam, já
que durante o Inverno o período de luz solar era mais curto, amanhecia mais
tarde e escurecia mais cedo, e as noites eram longas e frias.
Porém,
mesmo sendo um período difícil para os celtas, era a época em que os casais
podiam ficar juntos em seus lares. Por isso, na antiga tradição dos celtas da
Irlanda, a época propícia para realizar casamentos ocorria entre a Twelfth Night ou “Décima-segunda Noite”,
que correspondia a 5 de janeiro, e Shrovetide,
ou seja, o início de março (veja o artigo sobre o Beltaine – edição de
outubro/11), ou seja, em pleno Inverno.
Isso
porque no final do Inverno e início da Primavera, os campos se tornavam
novamente férteis, oferecendo novas pastagens para o gado e oportunidade de
cultivo da terra. Os homens deixavam seus lares para conduzir o gado a estas
pastagens, que ficavam afastadas das comunidades, enquanto mulheres e crianças
cuidavam da terra.
Os
novos casais, que se uniam em janeiro, ou seja, logo no início do Inverno,
tinham até o início da Primavera para estarem juntos. Portanto, o Imbolc marca
um período de união, quando as trevas estão em plena força e toda a Natureza
está adormecida. Só havia uma chance de sobreviver, e era se unindo em seus
lares, diante do calor do fogo sagrado acendido no Samhain, contando apenas com
os alimentos que conseguiram estocar na Primavera e no início do Outono.
Nesta
época, era preciso tentar manter uma dieta razoavelmente saudável para não
adoecer. Por outro lado, a falta do leite e de frutas e vegetais frescos por
quase seis meses se traduzia em um período de privações, ao qual somente os
mais bem preparados poderiam sobreviver.
Estar
unido em família, ter o calor do fogo e do amor era a única chance que os clãs
tinham de sobreviverem ao rigoroso Inverno, que além das dificuldades físicas,
obrigava os celtas a enfrentarem o frio e a escuridão de suas próprias almas.
Quem passasse por esta prova renasceria com a Natureza na Primavera, mais
fortalecido e sábio.
A
deusa associada ao Imbolc é Brígida ou Brigite, uma feiticeira poderosa, filha
do deus Dagda. Peça a ela proteção e força para vencer as dificuldades, os desafios
que a vida lhe traz.
Lugnasad
Era
uma celebração mais agrária que pastoril, que ocorria no hemisfério norte em 1º
de agosto. No hemisfério sul, o Lughnasad deve ser comemorado em 1º de
fevereiro. Na Gália, esta celebração era chamada de Rivros (agosto) e na
Inglaterra, August ou Agosto. Lughnasad, Lugnasad (no irlandês clássico),
Lughnasa, era um ritual dedicado ao deus Lug ou Lugh. Os celtas da Gália deram
o nome de Lugos/Lugus para a cidade que os romanos chamaram de Lugdunum e hoje
é Lyon, na França.
Nos
contos irlandeses antigos consta que Lug estabeleceu esta celebração em honra a
sua mãe, Tailtiu at Brega, no Condado de Meath. As festividades incluíam
corridas de cavalos e combates de artes marciais. Logo esta celebração se
espalhou e os celtas da Escócia também a incluíram em seus calendários sob o
nome de Lunasduinn. Na Ilha de Man, passou a se chamar Laa Luanistyn.
No
período anglo-saxão, o 1º de Agosto tornou-se o Dia de Lammas na Escócia e na
Inglaterra, da palavra anglo-saxã hlafmaesse
(massa de pão ou pão em massa).
Esse
festival não tinha muita importância para os celtas que ocuparam o País de
Gales e a Cornualha, locais onde o nome não carregava qualquer eco do deus Lug,
pois chamavam esta celebração de Calan Awst (primeiro de agosto) e Morvah,
respectivamente.
Os
celtas celebravam o Lugnasad (pronuncia-se lúnasa), que era no meio do Verão,
para pedir aos deuses que garantissem suas colheitas. Este ritual antecedia as
primeiras colheitas, especialmente da cevada e do trigo. Quando a colheita da
cevada e do trigo já estivesse bem adiantada, significava que as batatas
estavam maturadas e poderiam ser também colhidas.
As
celebrações do Lugnasad envolviam além dos jogos, que muitas vezes eram até
violentos, que os participantes subissem morros e montanhas, alcançando assim o
sídh, onde estariam mais próximos das
divindades do céu, e podiam colher uvas-do-monte, que nesta época já estavam
maduras. O Lugnasad marcava, ainda, o início da época do acasalamento dos
rebanhos e seguindo o exemplo da Natureza, era um período de grande atividade
sexual entre os celtas.
O
foco deste ritual, apesar de estar ligado ao deus Lug, não era o próprio, mas
sim a deusa-mãe ou a Grande Mãe, qualquer que fosse o nome que cada tribo celta
lhe atribuísse. Era importante render honras à Grande Mãe, para terem certeza
de que suas colheitas seriam fartas e que suas provisões para os meses frios do
Outono/Inverno estariam asseguradas.
Não
se trata de um ritual para agradecimentos, pois os celtas entendiam que a
partir do momento em que fizessem sua parte que era trabalhar a terra e cuidar
bem dos animais e honrar os deuses, teriam o retorno certo que era a fartura e
a abundância em suas mesas.
Para
saber sobre o Samhain e o Beltaine, veja respectivamente as edições de
maio/2011 e outubro/2011 da revista UP Universos Paralelos.
A
deusa que há mim saúda a deusa ou o deus que há em você!