Representação
de Epona no período da conquista romana.
Os
celtas não tinham um panteão como o greco-romano. Para alguns estudiosos,
tampouco tinham o costume de atribuir aos deuses forma humana e a representação
dos deuses através de imagens entalhadas em madeira começou após as invasões
romanas, por volta do século primeiro a.C.
Os
deuses eram responsáveis pelas estações e controlavam a Natureza, da qual o ser
humano fazia parte. O divino estava em todos os lugares: nas árvores
centenárias dos bosques e florestas, nas rochas, fontes, rios, pântanos,
montanhas, mar, etc.
As
deusas celtas possuíam, normalmente, aspecto triplo. Mórrigan ou Mórrigna, por
exemplo, era na verdade integrada por três divindades ou talvez, três aspectos
divinos distintos, que eram Mórrigan, Macha e Badb, também chamadas de “as
grandes rainhas” ou pelo nome coletivo “Mórrigan, as deusas da guerra”. A deusa
Brigit, filha de Mórrigan, assim como a mãe igualmente era dotada de três
aspectos.
Entre os
deuses, o triplismo era bem menos comum. Dagdá ou “O Bom Deus”, Lug, Taranis,
dentre outros, não possuem aspecto triplo. Isso se deve ao fato, provavelmente,
de que a energia feminina no mundo céltico estava associada à água, à terra e à
Lua. A Lua, por sua vez, possui quatro fases bem distintas e uma quinta que não
é propriamente uma fase, mas uma característica da Lua nova que é a Lua Escura
e que se trata de três noites entre a Lua minguante e a Lua nova, quando a Lua
fica oculta no céu e não pode ser avistada.
Os
locais com água, como poços, lagos, fontes, rios, etc., eram personificações da
deusa ou do poder feminino e eram considerados Espaços ou Locais Sagrados.
A deusa
era a Mãe e o deus era o Pai tribal
Para o
professor de Arqueologia Barry Cunliffe, a pedra fundamental da religião celta
é que em todas as deusas pode-se observar uma ligação com a Mãe Terra, e em
todos os deuses, além dos seus atributos específicos, existiam os atributos
próprios da tribo ou comunidade que representavam, embora fossem baseados em
Dagdá ou “O Bom Deus”.
Na
história irlandesa da Batalha de Moytura, houve um concílio entre os deuses e
cada um declarou suas qualidades. Quando chegou a vez de Dagdá, ele disse que
aquilo que cada um prometia fazer ele faria sozinho. Os outros deuses
responderam: “Então, é você o bom deus”. ‘Bom’, neste caso, não quer dizer
‘bondoso’, mas claramente significa que ele possuía todas as competências,
todas as qualidades, reunindo em si a totalidade dos poderes divinos.
As
Principais Deusas Celtas
Ana: Ana,
Anu ou Anna é uma deusa celta muito antiga que atravessou o mar com os celtas
que partiram do continente em direção às ilhas. Esta deusa pode ou não estar
identificada com a deusa Danu ou Dana, no genitivo Danann, protetora dos
imortais que chegaram à Irlanda, como consta na história do tuatha dé Danann.
De
qualquer forma, na Sanas Cormaic ou
‘Glossário de Cormaic’, consta que a Irlanda era conhecida na Antiguidade como
‘Terra de Ana’. Ana ou Dana é a deusa-mãe ancestral da Irlanda e patronesse dos
deuses celtas principais.
Em
galês, Dana é Dôn, deusa-mãe de cinco crianças míticas da quarta geração do Mabinogi. Há especulações de que o nome
do rio Danúbio teria sido dado pelos celtas em homenagem a esta deusa-mãe.
Boand: era
uma deusa imperiosa e luxuriosa de grande beleza. Aparecia acompanhada de um
cão de caça, Dabilla. Sua irmã, Bébinn, era a deusa do parto e também era muito
bonita.
Boand
embora casada com o deus Nechtan, que derivou o latino Netuno, teve um caso com
Dagdá e desta união nasceu Angus Óg, o deus da poesia.
Fódla,
Banda e Ériu: essas três deusas irmãs eram as guardiãs dos
celtas e faziam parte do tuatha dé
Danann. Seus nomes também possuem conexão com o nome da Irlanda. Essas três
deusas estão ligadas com a deusa tripla Mórrígna, cuja trindade é integrada por
Mórrigan, Badb e Macha.
Mórrígna/Morrigan,
Macha e Badb ou Badb Catha: Badb Catha que significa ‘O
Corvo das Batalhas’, é a deusa que visita os campos de batalha antes e depois,
aparecendo para os soldados como um corvo. É a deusa do flagelo e do tormento,
causando pânico nos soldados. Os gauleses chamavam-na de Bodua, Catobodua ou
Cauth Bova. Morrigan e Macha, por sua vez, possuíam aspectos mais afetos à
soberania e fertilidade. Eram dotadas de grande apetite sexual, seduzindo
guerreiros, heróis e até mesmo deuses. Morrigan tinha aparência terrível e era
extremamente feroz. Macha possuía clara associação com o cavalo, animal
extremamente apreciado e respeitado entre os celtas.
Essas
três deusas eram comumente chamadas de “Mórrigna ou Morrigan”, que poderia se
referir somente à deusa Morrigan, Morrigu ou Mórrigna ou à tríplice deusa Morrigan,
Macha e Badb.
Outras Deusas Celtas
Andrasta ou Adrasta: vitoriosa deusa da guerra, especialmente
cultuada pelos icenos. Para Rutherford, a deusa fenícia Astarte teria ligação
com Andrasta, o que segundo o autor, demonstra que celtas e fenícios mantiveram
contatos na Antiguidade.
Artio: era
uma deusa-urso das florestas.
Brigit: Brigit ou Brigantia (nome latinizado) era uma deusa antiga dos
celtas. Especialmente adorada na Irlanda, era a deusa do fogo.
Coventina: deusa celta das fontes, representada no período romano como uma
ninfa nua com uma ânfora da qual caía água. Foi adorada tanto pelos celtas do
continente como pelos celtas da Grã-Bretanha.
Epona: deusa-égua
com aspectos de fertilidade, cultuada pelos celtas da Irlanda, Escócia e País
de Gales.
Nemausicae: Deusa dos celtas da Gália casada com o deus Nemausus. Esse casal
divino cedeu seus nomes a Nimes, no sul da França.
Sequana: deusa do rio Sene, ao qual teve seu nome atribuído.
Sulis: essa
deusa parece ter surgido no período romano e foi cultuada principalmente pelos
gauleses, em Bath, França, onde ficava seu santuário.
Ceridwen
– Feiticeira e não deusa
Ocorre
que Ceridwen é uma bruxa da mitologia dos celtas que ocuparam as ilhas,
especialmente o norte do País de Gales. Era casada com Tegid Foel (pronuncia-se
teg-id voil), que deu seu nome ao
Lago Bala (Bala Lake) e não com Cernunnos (leia sobre esse deus na próxima
edição).
Ceridwen
teve dois filhos: a bela Creirwy e o medonho Morfran. Aparentemente, Ceridwen
também seria mãe de Taliesin. Ela possuía um caldeirão encantado, “o Caldeirão
do Conhecimento”, o qual guardava no fundo do Lago Bala, na esperança de
reservar os poderes do caldeirão para seus dois filhos.
Quando
finalmente preparou a poção para Morfran, o herói Gwion Bach apareceu a
aproximou-se do caldeirão. As três gotas da poção que eram para Morfran caíram
acidentalmente em Gwion Bach, garantindo-lhe poderes extraordinários de
vidência e sabedoria sobre-humana. Na tentativa de recuperar o poder da poção, Ceridwen
o seduziu e o possuiu fazendo-o mudar de forma. Na última transformação, ela o
tornou um grão de trigo e o consumiu. Nove meses depois, ela deu à luz
Taliesin, o poeta de inspiração divina.
A
deusa que há em mim saúda a deusa ou o deus que há em você!
Nota: Artigo baseado
no livro “Bruxas”, p. 126/133.