segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

ARCANO 20 - O JULGAMENTO

A carta escolhida fala da descoberta dos mistérios ocultos que traz a transformação, a transmutação do ser, que é “O Julgamento”. É quando barreiras são rompidas, a fronteira entre dois mundos é cruzada, e o ser, livre e desprovido das suas limitações, que podemos interpretar como o corpo físico, se estivermos falando da desencarnação; ou como um conjunto de hábitos, comportamentos e crenças, se estivermos falando de uma mudança radical no nosso modo de ser e viver; se sente totalmente liberto para não mais pensar, mas simplesmente sentir, vibrar e ser, em comunhão com o Todo. Esta carta também pode mostrar o êxtase místico através do qual o iluminado alcança a sabedoria e fica mais próximo da Criação.
O Julgamento, longe de conter o conceito retrógrado mas razoavelmente novo do julgamento católico da alma sendo encaminhada para o céu ou para o inferno, oferece, ao contrário, uma nova perspectiva de compreensão e integração do indivíduo com o macrocosmos, da criatura com a fonte criadora.
Nesta hora, não existem barreiras, não existem padrões, não existe nada além do ser que pulsa e sente em uníssono com o Universo. Permita-se se libertar de preconceitos, medos, angústias, e qualquer pensamento ou sentimento limitante que o impeça de ir além.
A prisão está dentro de nós, em nossas mentes ou espíritos. Liberta a mente, onde o corpo se encontra é insignificante. A realidade é subjetiva, nós a criamos. Não existe certo ou errado, existe um julgamento social que nos permite conviver em sociedade e existe a verdade profunda, que está dentro de cada ser. Só você pode encontrar e compreender a sua verdade.
E nesta jornada incessante, posto que terminada a jornada não há mais interesse na vida, o que se pode concluir é que o Tarot é o meio, o fim e o começo.  

A deusa que há mim saúda a deusa ou o deus que há em você!

O TARÔ COMO MEIO, FIM E COMEÇO

Jung descobriu o que chamou de inconsciente coletivo. Sua contribuição à humanidade foi inimaginável, até mesmo para ele, posto ter estudado o maior mistério de todos: a mente humana. Jung traduziu a mente em consciente (soma dos símbolos e sensações disponíveis à nossa consciência), inconsciente (representado por todos os aspectos da experiência que o indivíduo não pode simbolizar por qualquer ra­zão) e o grande paradoxo que é a relação simbiótica que necessariamente deve existir entre ambos “os lados” para que o indivíduo seja e esteja equilibrado e harmonioso.
Fez, ainda, uma distinção entre o inconsciente pessoal e o inconsciente coletivo, sendo este último a somatória de todas as experiências de uma coletividade humana, seja uma nação, uma tribo, uma raça ou mesmo toda a humanidade.
A palavra “arquétipo”, muito aplicada no estudo do Tarot, é na definição junguiana “uma tendência abstrata e genérica que está por trás de determinada manifestação. Assim, cada aspecto objetivo da realidade expressa um arquétipo. Por exemplo, os instin­tos sexuais são uma forma de expressão do arquétipo da reprodução.
Para Jung, o ser humano é o produto da manifestação de alguns arquétipos básicos, como a persona (a máscara que apresentamos ao mundo, nossa couraça, aquilo que mostramos aos outros), o ego (nosso auto-conceito, aquilo que consideramos como sendo nós mesmos), sombra (a soma das características que não aceitamos em nós mesmos e, por isso, negamos, tornando-as inconscientes e projetan­do-as em outras pessoas), animus (soma das qualidades masculinas contidas na mulher), anima (lado feminino no homem) e o eu (que representa a totalidade da psique humana, o centro de crescimento e evolução de cada indivíduo).
Segundo Jung, o homem tende a evoluir psicologicamente no sentido de obter uma crescente integração entre o consciente e o incons­ciente pessoais, num processo que ele chamou de individuação. Esse processo envolve a progressiva tomada de consciência das manifestações dos arquétipos inconscientes da psique - a persona, a sombra, o animus ou anima e, finalmente, a relação consciente com o eu, o centro vital do psiquismo. Posteriormente, observou que há uma tendência no indivíduo de en­trar em relação consciente com o inconsciente coletivo.
Isso significa que é no inconsciente coletivo que se pode buscar o simbolismo contido ou que existiu no Tarot em algum momento pregresso. Na abordagem junguiana, o símbolo é tudo o que desperta em nós idéias e emoções vagas e complexas, e normalmente é representado por uma imagem (a triskle, por exemplo).
O símbolo é visto, também, como uma forma de expressão dos arquétipos, tanto indi­viduais como coletivos, e só pode ser interpretado no contexto indivi­dual ou cultural em que se apresenta. Sobre os símbolos, leia os artigos de Magia Atemporal das edições de junho e julho/2011.
Ao acessarmos os símbolos contidos no inconsciente coletivo, teremos acesso ao  conhecimento e à sabedoria. E como fazer essa ligação conscientemente? A resposta é paradoxalmente simples e complexa: através do Tarot. Você pode se perguntar: “Do Tarot cujo simbolismo foi deturpado e em parte perdido ao longo dos séculos?” E eu respondo: “Exatamente!”
Partiremos do princípio de que “o que está embaixo, assim também é acima”. É um princípio alquímico e espiritual poderoso que encerra grande sabedoria. Se o Tarot é uma codificação simbólica para o conhecimento não só do ser ou do tempo, mas especialmente do micro (ser humano) e do macrocosmo (Universos), nada mais lógico que usar esta simbologia para ligar nosso inconsciente individual com o coletivo, acessando toda a carga armazenada desde o começo dos tempos neste planeta.
Mesmo que o Tarot que chegou até nós hoje esteja em parte perdido ou desvirtuado, ainda existem nele símbolos preservados os quais poderemos usar para o nosso intento. E acessando o inconsciente coletivo através destes símbolos, receberemos o conhecimento que nos foi dado num passado distante, perdido pela passagem de Cronos (tempo).
O Tarot, neste caso, não é o objetivo final, mas é o veículo para um alcance maior, para a amplitude da consciência, do eu e do Todo. E nesta via de mão dupla, ao trabalharmos com o ‘veículo’ e ao atingirmos o Todo (conhecimento através do inconsciente coletivo), conheceremos mais do simbolismo, vislumbraremos os verdadeiros mistérios e segredos outrora impressos ocultamente (por símbolos) no ‘veículo’ (Tarot).

A deusa que há em mim saúda a deusa ou o deus que há em você!

TARÔ - O GRANDE LIVRO

A origem do Tarô, Tarot, Taroch, Tarok, Tarocco, Tarocchi, dentre outros nomes pelos quais é conhecido no mundo, é tão obscura quanto a origem do próprio nome. Acredita-se que desde o século XII os ciganos ou gipsys já utilizavam um baralho para “ler a sorte” das pessoas. Este conjunto de cartas ou lâminas teria sido trazido por eles do Egito, espalhando-se pela Europa na Idade Média.
Em 1.392, o rei da França Carlos VI encomendou por um bom preço ao pintor Jacquemin Gringonneur três pacotes de cartas ricamente ilustradas. Há notícias também de um baralho de Tarô datado do século XV, encomendado a um artista chamado Bonifácio Bembo pela família Visconti de Milão, que aparentemente deixaram quinze jogos de Tarô incompletos, os quais atualmente ainda existem na Itália, imagino que em algum museu. Esse conjunto de pinturas compreendia um baralho clássico para o jogo italiano Tarocchi[1].
A primeira descrição de um baralho de Tarô, porém, só apareceu séculos mais tarde. Seu autor foi o teólogo protestante francês e historiador Antoine Court de Gébelin (1.725 – 1.784). No primeiro dos nove volumes de sua obra “Le Monde Primitif”, Gébelin afirma que as cartas do Tarô foram extraídas do Livro de Thoth (deus egípcio das letras e da escrita).
As teorias para explicar as origens do nome “Tarô” são inúmeras. Há quem afirme que este nome provem do próprio jogo italiano Tarocchi, outros afirmam que a palavra francesa tarot teria origem no Antigo Egito e significaria “roda” ou “caminho”, conquanto outros estudiosos afirmem que segundo a etimologia francesa, tarot é um empréstimo do italiano tarocco, derivado de tara, que seria "perda de valor que sofre uma mercadoria, dedução, ação de deduzir", o que pode ter a ver com o próprio jogo Tarocchi em termos de perder e ganhar dinheiro com as apostas. Outras fontes informam que o nome Tarok teria origem na palavra árabe turuq, que significa "quatro caminhos", ou talvez em outra palavra árabe tarach, que significa "rejeito".
Na verdade, estudar as origens do Tarô ou do próprio nome não é minha intenção. Prefiro voltar a atenção para a simbologia arquetípica inegavelmente contida nos arcanos ou trunfos (cartas do Tarô).
A palavra arcano vem do latim arcanu, que quer dizer segredo, mistério. Este mistério estaria oculto nos símbolos arquetípicos trazidos nas setenta e oito cartas do Tarô, mas é nas vinte e duas cartas iniciais, conhecidas como arcanos maiores que está concentrada a grande riqueza arquetípica deste grande livro milenar.
Por isso, para efeitos de estudos e observações, não me deterei em questionamentos como se os baralhos de Tarô que conhecemos hoje trazem a simbologia original ou se teriam sido alterados, distorcidos e até mesmo deturpados ao longo dos séculos, e acredito que invariavelmente foram. Simplesmente partirei do princípio de que a simbologia a qual temos acesso através do Tarô encerra em si a oportunidade de estudos aprofundados e grande conhecimento por parte daqueles que se aventurarem a desvendar esses mistérios. Para tanto, abordarei o Tarô através de uma visão bastante junguiana.
Para um primeiro contato com você, leitor/a, convido-o/a em primeiro lugar a adquirir um baralho de Tarô se não tiver um. E é interessante que conheça minimamente sobre o significado das cartas, pois assim poderá escolher o Tarô que lhe chamar a atenção, ou seja, cuja simbologia falar ao seu inconsciente.
Feito isso, aos leitores que já possuem um baralho e até mesmo que já estudam este grande livro de mistérios, convido-os a deixarem de lado por um instante todo o entendimento que formaram acerca do Tarô, para verem estes arcanos com outros olhos, com os meus olhos...
O que você pretende com o Tarô? A busca de auto-conhecimento, conhecer o outro e/ou o Universo? Utilizá-lo como oráculo para obter orientação nas mais diversas áreas da vida e orientar outras pessoas também? Pretende conseguir se encontrar e, assim, encontrar seu caminho na vida? Quer obter cura para os desequilíbrios energéticos (vulgarmente falando – as doenças), quer alcançar equilíbrio, harmonia, paz interior, iluminação? Gostaria de aflorar seus dons mediúnicos, aprender a ouvir sua intuição, desenvolver a premonição? Ótimo, porque tudo isso e muito mais pode ser obtido através do Tarô.
Quanto ao arcano acima, observe-o com atenção e perceba que sentimentos, impressões e sensações desperta em você? Esta é a carta “Força”, do Tarô das Bruxas[2], tirada por mim ao acaso. Em alguns baralhos, como neste por exemplo, a Força é a carta de número 8, enquanto em outros é número 11 e em outros Tarôs, ainda, as cartas não possuem numeração, como no Tarô Mitológico.
Esta carta mostra um animal selvagem, aqui representado por uma leoa, totalmente submissa à mulher ou bruxa. A interpretação usual deste simbolismo é que o animal selvagem representa nosso lado irracional, nossos instintos, enquanto a figura humana representa o raciocínio lógico, o que leva à interpretação de que nosso lado consciente, racional domina o lado irracional, inconsciente, instintual. Essa é o entendimento mais comum.
Agora, perceba o que está por trás deste simbolismo e além. Para mim, não se trata de dois lados da mente, consciente e inconsciente, racional e irracional, mas se trata da ambigüidade de todos os seres como sentir – pensar, força – fragilidade, mente/espírito – corpo, desejo – contenção,  luz – sombra (luz e sombra no sentido junguiano, sendo luz as qualidades desejadas e valorizadas por nós e sombra as características que não aceitamos em nós mesmos e reprimimos, mas que invariavelmente se projetam no outro), etc. Todas essas duplicidades se opõem e ao mesmo tempo se completam.
Você não pode só sentir, mas também não pode só pensar para tomar atitudes, fazer escolhas na vida. O ideal, o equilíbrio encontra-se em analisar ambos os lados, refletindo sobre a questão e sentindo-a, para depois extrair disso uma conclusão. A força é necessária em alguns momentos, mas em outros, devemos assumir nossas fragilidades, nossas fraquezas para que possamos aprender a ser fortes. E forte pode ser física ou emocionalmente ou ambos.
Quanto às qualidades e à sombra junguianas, o que é qualidade e o que é defeito para você? Ser perfeccionista é qualidade ou defeito? Minha resposta é “Depende!”, pois parto do princípio de neurolinguística de que todo comportamento é útil em algum contexto.      
Portanto, antes de querer “se livrar” de algum comportamento, crença ou hábito, pense em que contexto isso é útil para você, porque certamente se ele existe, é porque tem sua importância e precisão. Somente quando você entender essa dinâmica e aprender que sem substituir este comportamento, crença, etc indesejado por outro que lhe cumpra a função positiva, não conseguirá se livrar disso de forma harmônica e saudável. Se você se desfizer deste padrão sem substituí-lo, trará conseqüências indesejadas e ás vezes, até graves para seu sistema (integração corpo, mente, espírito).
Por exemplo, quem quer desesperadamente parar de fumar, não pode simplesmente parar de repente. Das duas uma: ou invariavelmente voltará a fumar, ou terá alguma reação séria diretamente proporcional à dependência que apresentava ao cigarro. A solução? Entenda o que fumar lhe traz de bom, porque traz algum benefício caso contrário você não fumaria, verifique que outro hábito (saudável, claro) pode lhe proporcionar o mesmo bem-estar, comece a praticar este novo padrão e muitas vezes naturalmente sua vontade ou necessidade de fumar diminuirá. Desta forma você deixará mesmo de fumar e não voltará atrás.
Tudo isso, todos esses padrões contraditórios e de complementaridade estão contidos neste arcano do Tarô, a Força.

A deusa que há mim saúda a deusa ou o deus que há em você!


[1] Pollack, Rachel. “Setenta e oito graus de sabedoria”, Ed. Nova Fronteira, p. 09.
[2] “The Witches Tarot”, Ellen Cannon Reed e Martin Cannon, Ed. Llewellyn, 1.996, EUA.

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