segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

TARÔ - O GRANDE LIVRO

A origem do Tarô, Tarot, Taroch, Tarok, Tarocco, Tarocchi, dentre outros nomes pelos quais é conhecido no mundo, é tão obscura quanto a origem do próprio nome. Acredita-se que desde o século XII os ciganos ou gipsys já utilizavam um baralho para “ler a sorte” das pessoas. Este conjunto de cartas ou lâminas teria sido trazido por eles do Egito, espalhando-se pela Europa na Idade Média.
Em 1.392, o rei da França Carlos VI encomendou por um bom preço ao pintor Jacquemin Gringonneur três pacotes de cartas ricamente ilustradas. Há notícias também de um baralho de Tarô datado do século XV, encomendado a um artista chamado Bonifácio Bembo pela família Visconti de Milão, que aparentemente deixaram quinze jogos de Tarô incompletos, os quais atualmente ainda existem na Itália, imagino que em algum museu. Esse conjunto de pinturas compreendia um baralho clássico para o jogo italiano Tarocchi[1].
A primeira descrição de um baralho de Tarô, porém, só apareceu séculos mais tarde. Seu autor foi o teólogo protestante francês e historiador Antoine Court de Gébelin (1.725 – 1.784). No primeiro dos nove volumes de sua obra “Le Monde Primitif”, Gébelin afirma que as cartas do Tarô foram extraídas do Livro de Thoth (deus egípcio das letras e da escrita).
As teorias para explicar as origens do nome “Tarô” são inúmeras. Há quem afirme que este nome provem do próprio jogo italiano Tarocchi, outros afirmam que a palavra francesa tarot teria origem no Antigo Egito e significaria “roda” ou “caminho”, conquanto outros estudiosos afirmem que segundo a etimologia francesa, tarot é um empréstimo do italiano tarocco, derivado de tara, que seria "perda de valor que sofre uma mercadoria, dedução, ação de deduzir", o que pode ter a ver com o próprio jogo Tarocchi em termos de perder e ganhar dinheiro com as apostas. Outras fontes informam que o nome Tarok teria origem na palavra árabe turuq, que significa "quatro caminhos", ou talvez em outra palavra árabe tarach, que significa "rejeito".
Na verdade, estudar as origens do Tarô ou do próprio nome não é minha intenção. Prefiro voltar a atenção para a simbologia arquetípica inegavelmente contida nos arcanos ou trunfos (cartas do Tarô).
A palavra arcano vem do latim arcanu, que quer dizer segredo, mistério. Este mistério estaria oculto nos símbolos arquetípicos trazidos nas setenta e oito cartas do Tarô, mas é nas vinte e duas cartas iniciais, conhecidas como arcanos maiores que está concentrada a grande riqueza arquetípica deste grande livro milenar.
Por isso, para efeitos de estudos e observações, não me deterei em questionamentos como se os baralhos de Tarô que conhecemos hoje trazem a simbologia original ou se teriam sido alterados, distorcidos e até mesmo deturpados ao longo dos séculos, e acredito que invariavelmente foram. Simplesmente partirei do princípio de que a simbologia a qual temos acesso através do Tarô encerra em si a oportunidade de estudos aprofundados e grande conhecimento por parte daqueles que se aventurarem a desvendar esses mistérios. Para tanto, abordarei o Tarô através de uma visão bastante junguiana.
Para um primeiro contato com você, leitor/a, convido-o/a em primeiro lugar a adquirir um baralho de Tarô se não tiver um. E é interessante que conheça minimamente sobre o significado das cartas, pois assim poderá escolher o Tarô que lhe chamar a atenção, ou seja, cuja simbologia falar ao seu inconsciente.
Feito isso, aos leitores que já possuem um baralho e até mesmo que já estudam este grande livro de mistérios, convido-os a deixarem de lado por um instante todo o entendimento que formaram acerca do Tarô, para verem estes arcanos com outros olhos, com os meus olhos...
O que você pretende com o Tarô? A busca de auto-conhecimento, conhecer o outro e/ou o Universo? Utilizá-lo como oráculo para obter orientação nas mais diversas áreas da vida e orientar outras pessoas também? Pretende conseguir se encontrar e, assim, encontrar seu caminho na vida? Quer obter cura para os desequilíbrios energéticos (vulgarmente falando – as doenças), quer alcançar equilíbrio, harmonia, paz interior, iluminação? Gostaria de aflorar seus dons mediúnicos, aprender a ouvir sua intuição, desenvolver a premonição? Ótimo, porque tudo isso e muito mais pode ser obtido através do Tarô.
Quanto ao arcano acima, observe-o com atenção e perceba que sentimentos, impressões e sensações desperta em você? Esta é a carta “Força”, do Tarô das Bruxas[2], tirada por mim ao acaso. Em alguns baralhos, como neste por exemplo, a Força é a carta de número 8, enquanto em outros é número 11 e em outros Tarôs, ainda, as cartas não possuem numeração, como no Tarô Mitológico.
Esta carta mostra um animal selvagem, aqui representado por uma leoa, totalmente submissa à mulher ou bruxa. A interpretação usual deste simbolismo é que o animal selvagem representa nosso lado irracional, nossos instintos, enquanto a figura humana representa o raciocínio lógico, o que leva à interpretação de que nosso lado consciente, racional domina o lado irracional, inconsciente, instintual. Essa é o entendimento mais comum.
Agora, perceba o que está por trás deste simbolismo e além. Para mim, não se trata de dois lados da mente, consciente e inconsciente, racional e irracional, mas se trata da ambigüidade de todos os seres como sentir – pensar, força – fragilidade, mente/espírito – corpo, desejo – contenção,  luz – sombra (luz e sombra no sentido junguiano, sendo luz as qualidades desejadas e valorizadas por nós e sombra as características que não aceitamos em nós mesmos e reprimimos, mas que invariavelmente se projetam no outro), etc. Todas essas duplicidades se opõem e ao mesmo tempo se completam.
Você não pode só sentir, mas também não pode só pensar para tomar atitudes, fazer escolhas na vida. O ideal, o equilíbrio encontra-se em analisar ambos os lados, refletindo sobre a questão e sentindo-a, para depois extrair disso uma conclusão. A força é necessária em alguns momentos, mas em outros, devemos assumir nossas fragilidades, nossas fraquezas para que possamos aprender a ser fortes. E forte pode ser física ou emocionalmente ou ambos.
Quanto às qualidades e à sombra junguianas, o que é qualidade e o que é defeito para você? Ser perfeccionista é qualidade ou defeito? Minha resposta é “Depende!”, pois parto do princípio de neurolinguística de que todo comportamento é útil em algum contexto.      
Portanto, antes de querer “se livrar” de algum comportamento, crença ou hábito, pense em que contexto isso é útil para você, porque certamente se ele existe, é porque tem sua importância e precisão. Somente quando você entender essa dinâmica e aprender que sem substituir este comportamento, crença, etc indesejado por outro que lhe cumpra a função positiva, não conseguirá se livrar disso de forma harmônica e saudável. Se você se desfizer deste padrão sem substituí-lo, trará conseqüências indesejadas e ás vezes, até graves para seu sistema (integração corpo, mente, espírito).
Por exemplo, quem quer desesperadamente parar de fumar, não pode simplesmente parar de repente. Das duas uma: ou invariavelmente voltará a fumar, ou terá alguma reação séria diretamente proporcional à dependência que apresentava ao cigarro. A solução? Entenda o que fumar lhe traz de bom, porque traz algum benefício caso contrário você não fumaria, verifique que outro hábito (saudável, claro) pode lhe proporcionar o mesmo bem-estar, comece a praticar este novo padrão e muitas vezes naturalmente sua vontade ou necessidade de fumar diminuirá. Desta forma você deixará mesmo de fumar e não voltará atrás.
Tudo isso, todos esses padrões contraditórios e de complementaridade estão contidos neste arcano do Tarô, a Força.

A deusa que há mim saúda a deusa ou o deus que há em você!


[1] Pollack, Rachel. “Setenta e oito graus de sabedoria”, Ed. Nova Fronteira, p. 09.
[2] “The Witches Tarot”, Ellen Cannon Reed e Martin Cannon, Ed. Llewellyn, 1.996, EUA.

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