quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Obsessão

CONCEITO E ESTUDO DA OBSESSÃO APLICADOS À MAGIA

“Pergunta 467 do Livro dos Espíritos, de Allan Kardec: Pode o homem eximir-se da influência dos Espíritos que procuram arrastá-lo ao mal? Pode, visto que tais Espíritos só se apegam aos que, pelos seus desejos, os chamam, ou aos que, pelos seus pensamentos, os atraem.”

Para este artigo, tomei por base os livros da doutrina Espírita Kardecista, por trazerem estudos aprofundados sobre o assunto. Considerei, ainda, os meus mais de 15 anos de experiência em trabalhos mediúnicos de orientação aos desencarnados, também chamado de ‘desobsessão’, e mais de 20 anos de prática e estudos na Magia e na mediunidade.
Entendo ser da máxima importância que bruxas e bruxos saibam o que é a obsessão e como se proteger. A prevenção e proteção são possíveis ao conhecer os processos obsessivos e suas causas.
“Todos nós somos médiuns; uns possuem a mediunidade mais aflorada, outros menos.”

Acredito que todos nós, seres humanos (mas os animais também), somos dotados de mediunidade, sendo a intuição o tipo mais simples e comum. Se você pensa que não a possui, é porque apenas não aprendeu a ouvi-la.
Preste atenção àquele pensamento que lhe diz para fazer ou não fazer algo, àquela sensação de que o que está para fazer não dará certo, que deveria mudar o caminho, etc. Você aprenderá a ouvir sua intuição com o tempo e treinando, fazendo testes. A intuição é essencial às bruxas e bruxos, pois no caminho da Magia, ela será a principal guia, uma vez que os guardiões e mentores prestam orientação e proteção mais efetiva através da intuição.
Quando me referir ao ‘médium’, quero dizer além de pessoas que possuem mediunidade, também a bruxa e o bruxo praticantes de magia e/ou de trabalhos espirituais, que igualmente, partindo da premissa acima, são médiuns.

“Os meios de combater a obsessão variam segundo o caráter que ela reveste.” Item 249 – Livro dos Médiuns

A obsessão é a ação pela qual espíritos inferiores influenciam maleficamente os encarnados, conectando-se e atuando sobre o seu sistema nervoso central. Kardec definiu três graus do processo obsessivo[1]:
1) Obsessão simples: é a ação de certo espírito que se apresenta quando outro é evocado, tentando por este se fazer passar. Isso ocorre com certa freqüência com os médiuns em desenvolvimento, que ainda estão aprendendo a controlar seu canal mediúnico, assim como com as bruxas que se iniciam no caminho da Magia. No entanto, o espírito farsante pode se apresentar também ao médium experiente, que deverá saber reconhecer que se trata de um espírito mal intencionado. A obsessão simples se instala a partir do momento em que determinado espírito inferior insiste em perseguir o médium, procurando a todo custo envolvê-lo e influenciá-lo, afastando qualquer outro espírito que queira se comunicar ou trabalhar com ele, especialmente o guardião e o mentor de Magia. Além dos trabalhos espirituais, a obsessão simples pode ocorrer quando um espírito desencarnado sem real expressão de maldade, sendo antes uma alma perdida e desesperada surpreendida pela desencarnação, agarra-se ao encarnado na esperança de obter ajuda. A obsessão simples se resolve com a postura firme do médium em reconhecer que aquele espírito desencarnado não merece atenção, persistindo no caminho das boas ações e procurando elevar suas vibrações, ligando-se aos guardiões e mentores, solicitando-lhes a reaproximação e proteção. Estes, por sua vez, como respeitam o livre-arbítrio, jamais interferirão se não forem convocados. Por outro lado, claro está que para que entidades inferiores se acerquem do médium, este o permitiu através de sentimentos, pensamentos e/ou ações menos dignas.   
2) Fascinação: é a ilusão produzida pela ação direta do espírito sobre o pensamento do médium, perturbando-lhe o raciocínio, impedindo o seu julgamento quanto à comunicação recebida. O médium não acredita que está sendo enganado, pois inicialmente o espírito se apresenta como iluminado e sábio, mas no decorrer de sua influenciação, acaba por deixar transparecer a sua inferioridade moral, embora seja muito astuto e inteligente. Entretanto, o médium fascinado não consegue se aperceber da sua má intenção. Quem está ao redor percebe claramente, e é por isso que faz parte da tática deste obsessor determinar ao médium que se afaste de todos, incutindo-lhe a idéia de que são falsos amigos, invejosos do seu maravilhoso trabalho espiritual. Médiuns vaidosos são os alvos principais deste processo obsessivo que é bastante grave, pois o obsessor fala ao médium atribuindo-se alta estatura na hierarquia espiritual, quando não, assumindo personalidade de pessoas notórias e veneráveis como Napoleão Bonaparte, Joana D’Arc, etc. Sendo vaidoso, o médium se deixa enganar pelo obsessor que passa a emitir falsas mensagens, atrapalha o trabalho do médium e do grupo, e acaba por desviá-lo do caminho do bem. Isso também é bastante comum nos círculos de magia, quando a bruxa ou bruxo acreditam que sua/seu mentor/a de magia é muito poderoso/a e que não raro teria sido uma figura importante no passado. É por isso que no meu clã, preferimos não conhecer a real identidade de quem está se comunicando, voltando nossa atenção para a mensagem em si, que deve conter elementos esclarecedores, que denotem conhecimento, amor, respeito e sabedoria, visando o bem maior de todos. Qualquer coisa diferente disto não deve ser aceita. Para escapar à fascinação, primeiramente deve o médium ser humilde e aceitar críticas e observações acerca do seu trabalho espiritual. Afinal, sempre podemos melhorar. Quando dirigirem elogios ao bom trabalho do mentor que assiste o médium e ao próprio médium, este deve imediatamente lembrar que os guardiões e mentores não trabalham sozinhos e para que um trabalho ou ritual se desenvolva a contento, os mentores e guardiões de todos do clã ou grupo conjugaram esforços que culminaram no resultado positivo. Quanto às curas, recordo que ninguém cura ninguém; as pessoas se curam se assim o desejarem, ao se predisporem a reconhecer e aceitar a necessidade de reforma íntima. Da mesma forma, existem aquelas pessoas que adoram permanecer doentes para terem do que reclamar. Neste caso, se não alcançarem a cura, igualmente não será por falta de habilidade ou boa vontade do médium, grupo e mentores.
3) Subjugação: é o grau mais perigoso da obsessão, pois impõe sobre o médium a opressão que lhe paralisa a vontade, fazendo-o agir como desejar o obsessor. A subjugação pode ser moral ou corporal. Na moral, o subjugado é solicitado a tomar decisões absurdas e comprometedoras, que por uma espécie de ilusão, acredita serem sensatas. Na subjugação corporal, o obsessor atua sobre os órgãos, provocando movimentos involuntários. No médium escrevente, por exemplo, se traduz como uma vontade incessante de escrever, a qualquer hora e em qualquer lugar. Por vezes, o obsessor leva a vítima a se expor ao ridículo, tomando atitudes em público que em sã consciência não deseja, mas não possui força para impedir. Daí porque o fascinado, apesar de ser considerado louco pela medicina tradicional, sabe perfeitamente o quão ridículas são essas atitudes a que é submetido contra a vontade e sofre terrivelmente por isso.

O item 243 do Livro dos Médiuns descreve o que caracteriza a obsessão. A transcrição deste item aplica-se perfeitamente às bruxas e bruxos que praticam a Magia e/ou participam de trabalhos espirituais. Quantas vezes a bruxa que preside um ritual, um trabalho de magia ou espiritual não aceita qualquer sugestão, opinião, questionamento e muito menos crítica quanto ao procedimento adotado? Esquece-se que o bom líder sempre está aberto às observações e sugestões de seus seguidores.
“243. Reconhece-se a obsessão pelos caracteres seguintes:
1º Persistência de um Espírito em se comunicar, bom grado ou malgrado, pela escrita, audição, tiptologia, etc., opondo-se a que outros Espíritos possam fazê-lo.
2º Ilusão que, não obstante a inteligência do médium, o impede de reconhecer a falsidade e o ridículo das comunicações que recebe.
3º Crença na infalibilidade e na identidade absoluta dos Espíritos que se comunicam e que, sob nomes respeitáveis e venerados, dizem coisas falsas ou absurdas.
4º Confiança do médium nos elogios que lhe dão os Espíritos que se comunicam por ele.
5º Disposição para se afastar das pessoas que podem dar úteis avisos.
6º Levar a mal a crítica a respeito das comunicações que recebe.
7º Necessidade incessante e inoportuna de escrever. *
8º Qualquer constrangimento físico dominando a vontade e forçando a agir ou falar a seu malgrado.
9º Ruídos e desordens persistentes, ao redor de si, e dos quais é a causa ou o objeto.” **

* Faço aqui uma observação de que não só o ato de escrever, que aplica-se aos médiuns psicógrafos, mas de deixar o espírito se comunicar - psicofonia (vulgo incorporação), falar aos outros o que ouve o espírito falando - médiuns audientes ou o que ele lhe mostra - médiuns videntes e clarividentes, mesmo que em momentos impróprios, etc.
** Isso pode ocorrer durante um ritual, trabalho de magia, sessão de trabalhos espíritas kardecistas ou umbandistas (rol apenas exemplificativo e não taxativo).

Por fim, no item 244 da mesma obra, esclarece-se que não só os médiuns que exercem a faculdade através do trabalho no bem são passíveis de sofrerem processos obsessivos, mas qualquer um que trabalhe ou não a mediunidade, que acredite ou não em espíritos, está sujeito à obsessão. Basta que  mantenha má conduta vibratória através da cólera, inveja, desejo de vingança, viciações de qualquer tipo (álcool, drogas, alimentação excessiva, etc.), maledicência, desesperação, desânimo profundo, cultivo consciente de tristezas, mágoas e doenças (do que se libertaria através do perdão), desregramentos sexuais, etc.
Para que haja a libertação do subjugado, deverá inicialmente admitir que está sob influência maléfica, reconhecendo que o espírito que lhe assiste no momento não é um ser iluminado, mas um farsante, o que é bem difícil.
A resposta à pergunta 464 do Livro dos Espíritos, explica que para saber se o espírito que nos aconselha é bom ou mau, basta analisarmos a sugestão, pois os bons espíritos somente para o bem nos aconselham. E jamais nos dizem o que fazer. A escolha caberá tão somente a nós, assim como as conseqüências.
Para reconhecer os pensamentos que não são nossos, na pergunta 461 da mesma obra consta que quando um pensamento nos é sugerido, temos a impressão de que alguém nos fala, enquanto os pensamentos próprios são os que primeiro surgem em nossa mente.
E por fim, na resposta à pergunta 469, esclarece que podemos neutralizar a influência dos maus espíritos praticando o bem e depositando nossa confiança e fé na Criação e nos nossos guardiões e mentores, uma vez que os espíritos inferiores só se apegam aos que, pelos seus desejos igualmente inferiores os chamam, ou aos que pelos seus pensamentos os atraem.

O perigo da obsessão não está na prática da mediunidade, mas ao contrário, o bom trabalho mediúnico através do trabalho espiritual em uma instituição ou grupo sério e dedicado ao bem, praticando assim a caridade para com o próximo, serve de controle e ajuda que nos protegerão.

Quem pratica magia e/ou se dedica a práticas espiritualistas sabe que ao integrar uma egrégora, a proteção é recebida multiplicada, pois será assistido não só por seu guardião e mentor de magia ou espiritual, como também pelos guardiões e mentores daquela instituição ou grupo.
Saliento que o fato de receber comunicações reiteradas de uma mesma entidade espiritual, não necessariamente indica o estado obsessivo da bruxa. É antes a qualidade e o propósito dessas mensagens que devem ser avaliadas pelo grupo.
Qualquer mensagem, seja escrita, falada, visões, recebida através de oráculos, etc., deve conter em si a intenção de instruir e esclarecer o destinatário. Mensagens que contenham, por exemplo, ordens expressas ao invés de orientações são suspeitas, pois os guardiões e mentores nos aconselham, em que pese a decisão caber a nós. Igualmente devem ser descartados os elogios tecidos pelo espírito ao(s) médium(ns) e/ou grupo, afastando esta entidade comunicante e colocando-se o transmissor da mensagem em observação, pois os espíritos amigos, nossos mentores e guardiões não perdem tempo enviando palavras de lisonja pessoal. Partem do princípio de que estamos cumprindo uma obrigação a que nos propusemos antes de reencarnar e de que sempre devemos nos esforçar para melhorar. Se o trabalho estiver a contento, não falarão nada; caso contrário, expressarão as reprimendas apontando as falhas a serem corrigidas, e é assim que deve ser.
Os guardiões e mentores não estão conosco para nos consolarem como se fossem pais irresponsáveis que sempre arrumam desculpas para as transgressões de filhos mimados. Estão conosco para nos corrigir e orientar, pois nossa missão é caminhar para a luz, para a evolução individual, coletiva e planetária. 

“A arrogância e a vaidade são os caminhos certos para a obsessão.”

Os processos obsessivos são mais comuns do que se acredita, e posso afirmar que praticamente todas as bruxas e bruxos que iniciam seu caminho na Magia já foram e serão muitas vezes vítimas de entidades menos felizes que querem impedir que a luz se espalhe sobre a Terra.
Não há vergonha alguma em ter sido alvo de obsessores, pois os grandes líderes espirituais constantemente são atacados por falanges dessas entidades que querem impedir o progresso da humanidade.
O que não se deve permitir é o que o processo se instale. Para se defender, é preciso admitir que qualquer um pode ser atacado a qualquer momento, especialmente se está começando o exercício da mediunidade ou se ocupa papel de destaque dentro de um grupo que exerce atividades espirituais.
A arrogância de não aceitar que está sob a influenciação de entidade maléfica ou a vaidade ao crer que as comunicações que recebe são de um espírito muito superior e que as pessoas que estão ao seu redor estão com inveja, por isso o criticam, permitirá que o processo obsessivo se instale com sucesso, convertendo o médium em verdadeiro escravo do obsessor.
Recomenda-se que ao perceber a influenciação obsessiva, deixe de presidir trabalhos espirituais e/ou de magia por tempo indeterminado, até que tenha a certeza de que o obsessor foi afastado e que os guardiões e mentores estão de posse da proteção e orientação deste médium.
Aja em oposição ao que os obsessores desejam: tenha fé na espiritualidade e seja humilde.

Nem tudo, porém, é obra dos maus espíritos.

Não se deve atribuir aos maus espíritos ou a trabalhos negativos de magia toda sorte de infortúnios que acontece no dia-a-dia. É preciso antes observar que, provavelmente, foram nossos próprios atos que angariaram as reações que se apresentam em nossas vidas. Assim, não somos vítimas mas sim os únicos responsáveis pela resposta do Universo que se apresenta na nossa vida.

Relato extraído do Livro dos Médiuns: “Um agricultor nos escreveu um dia que, há doze anos, lhe atingia toda espécie de infelicidade com respeito ao seu gado; ora eram suas vacas que morriam ou não davam mais leite; ora eram seus cavalos, seus carneiros ou seus porcos. Fez muitas novenas que não remediaram o mal, não mais do que as missas que fez rezar, nem os exorcismos que fez praticar. Então, segundo a crença dos camponeses, persuade-se de que lançaram um feitiço sobre os animais. Crendo-nos, sem dúvida, dotados de um poder conjurador maior que o do vigário de sua cidade, pediu nosso parecer. Eis a resposta que obtivemos (do mentor):
‘A mortalidade ou as doenças do gado desse homem provém de que suas estrebarias estão infectadas, e que ele nada faz para reparar, porque isso custa.’”[2] 

A deusa que há mim saúda a deusa ou o deus que há em você!

Lady Mirian Black

Nota: Obras consultadas e leitura recomendada:
- O Livro dos Espíritos, capítulo IX – Da Intervenção dos Espíritos no Mundo Corporal, Allan Kardec.
- O Livro dos Médiuns, capítulo XXIII – Da Obsessão, idem.
- Nos Domínios da Mediunidade, André Luiz, psicografado por Chico Xavier, Ed. FEB.



[1] “O Livro dos Médiuns”, capítulo XXIII – Obsessão; “O Livro dos Espíritos”, capítulo IX, Allan Kardec.
[2] “Livro dos Médiuns”, item 253 da segunda parte do capítulo XXIII.

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