quarta-feira, 24 de abril de 2013

MORTE - Parte final


A Morte, mesmo no sentido de “mudança”, é difícil de aceitar!

Mesmo que a Morte no Tarô nos traga notícias de mudanças de contexto em nossa vida cotidiana, e por mais que desejemos essas mudanças durante muito tempo, é difícil aceitá-la, pois somos criaturas de hábitos. Quando finalmente conseguimos alcançar a tão almejada mudança, pranteamos o que estamos deixando para trás. Então, neste contexto, morte é desapego.
Igualmente é difícil nos desapegarmos das partes desgastadas da nossa psique. Os alquimistas reconheciam esse estado e para eles, a Morte simbolizava a necessidade de afrouxar a identificação com o corpo. A recusa a cooperar com o desmembramento do nosso eu desgastado cria uma paralisação completa no fluxo da vida, que redunda em morte espiritual.
Segundo Edward Edinger, “O desmembramento pode ser compreendido psicologicamente como um processo transformativo, que divide um conteúdo inconsciente original para finalidades de assimilação consciente.” Jung explicou que esse comportamento de negar a transformação, o autoconhecimento, pode até ocasionar a morte física.
Jung falou dos caminhos alternativos que escolhemos na tentativa de evitarmos reconhecer que a transformação se faz necessária. Por outro lado, a morte é sedutora e por vezes pode nos oferecer, inconsciente ou conscientemente, a saída, a resolução para nosso dilema, movendo-nos a uma desatenção que pode nos tornar propensos a acidentes, por exemplo.
Em outros casos, essa distração pode nos tornar descuidados com a saúde e obesos, conduzindo-nos a um suicídio mais sincero, nas palavras de Jung. Se o desejo de matar a sombra, nosso lado problemático e não raro rejeitado por nós mesmos, se tornar opressor, poderá resultar em autodestruição - morte.
Existem diversas maneiras sutis de nos suicidarmos, tanto física como espiritualmente. Se não conseguirmos aceitar mudanças, ou se não conseguirmos administrar as tensões às quais podemos ser submetidos no dia-a-dia, esforçando-nos para nos enquadrarmos em padrões cediços e que não correspondem aos nossos anseios e necessidades internas, a morte poderá aparecer em forma de ataque cardíaco, derrame ou qualquer outro mal súbito. Como Jung explicou, a Natureza encontra inúmeros modos de apagar uma existência sem sentido.

Quando perguntaram para Krishnamurti o que acontece depois da morte, ele respondeu: “Saberei quando lá chegar. Por enquanto, não preciso saber.” Perguntaram-lhe como se preparava para a morte. Ele replicou: “Todos os dias morro um pouco.”

Podemos temer a morte e repudiá-la, mas durante a nossa peregrinação pela Terra, nos depararemos com ela inúmeras vezes. E em cada experiência, teremos uma reação diferente, única, que, no entanto, nos fará meditar sobre nossa existência e o caminho que escolhemos para nós nesta vida. Até que finalmente, um dia teremos a nossa experiência pessoal com esta ilustre figura.
No caso de optarmos por encararmos a morte ao longo de nossa existência, aceitando-a como processo natural da vida, sem dúvida, a transformaremos em uma experiência  espiritual.
Assumindo esta conexão entre transformação profunda e renascimento após a morte, diversas tribos antigas praticavam, e algumas ainda praticam, rituais de passagem da infância para a vida adulta nos quais o iniciado deveria literalmente enfrentar a morte.
Às vezes, era abandonado na floresta densa e escura, tendo que retornar sozinho para casa; outras a transição exigia que a criança se lançasse das alturas de uma torre de madeira, presa por uma corda de fibra amarrada em um pé, para chegar no chão como um homem. Esses são alguns rituais, existem muitos outros.
Nas tradições de Magia não era e não é diferente. Como o iniciado pode conhecer verdadeiramente a vida sem vislumbrar o que é a morte? Afinal, vivemos em um mundo de dualidades. Só nos reconhecemos felizes quando ficamos tristes, e assim por diante.
Jung acentuou a idéia de que viver a vida plenamente é a maneira natural de abordar a morte. Analisou os sonhos de centenas de pessoas idosas e descobriu que o inconsciente dos que se aproximam da morte não fala sobre o final da vida, ao contrário, os sonhos parecem continuar, como a dizer que a própria vida continuará. A resposta de Jung sobre como devíamos nos preparar para a morte é que devemos continuar a viver como se a vida continuasse para sempre.  
Edgar Herzog, na sua obra Psyche and Death, explorou minuciosamente as origens dos dois enfoques básicos da morte: o científico e o religioso. Segundo sua tese, o confronto do homem com a morte física pode ter fornecido o primeiro impulso para a ciência e para a religião, pois a capacidade de se horrizar com a morte de outra pessoa é uma das principais características que distinguem os seres humanos dos animais. A primeira reação do homem primitivo, e do que em nós ainda existe de primitivo, é fugir da vista de um cadáver, reação não característica nos outros animais. Esse horror diante de um cadáver, difere do medo específico da morte em si.
Herzog aventou a hipótese de esse sentimento de horror, caracterizando a reação como “horror do incompreensível”, em contraste com “o medo do específico”, foi, provavelmente, a primeira experiência humana do “totalmente inacessível”. Para estabelecer um acordo com esse “totalmente inacessível”, o homem expandiu sua consciência em duas direções: a da religião, para ajudá-lo a aceitar a morte, e a da ciência, que encontra os fatos da morte e tenta controlá-los.



 Concluindo, a Morte em uma consulta pode significar morte física, perdas significativas, pode mostrar que o consulente tem medo da morte ou que está caminhando para ela inconsciente ou até conscientemente.
Cabe ao tarólogo observar, com a ajuda da sua intuição, dos arcanos menores e do contexto do jogo, sobre o que se trata, mas principalmente, é preciso primeiro quebrar os próprio preconceitos sobre este arquétipo, para então poder ajudar os outros a fazê-lo. Afinal, o fluxo da vida segue o princípio da impermanência:

IMPERMANÊNCIA

“A vida é como um piquenique em uma tarde de domingo... ela não dura muito tempo. Só olhar o sol, sentir o perfume das flores ou respirar o ar puro já é uma alegria. Mas se tudo o que fazemos é ficar discutindo onde pôr a toalha, quem vai sentar em que canto, quem vai ficar com o peito ou a coxa do frango..., que desperdício! Mais cedo ou mais tarde o tempo fecha, a tarde cai e o piquenique acaba. E tudo o que fizemos foi ficar discutindo e implicando uns com os outros. Pense em tudo que se perdeu.”

“Você pode estar se perguntando: se tudo é impermanente, se nada dura, como pode alguém viver feliz? É verdade que não podemos, de fato, agarrar ou nos segurar às coisas, mas podemos usar esse conhecimento para olhar a vida de modo diferente, como uma oportunidade muito breve e rara. Se trouxermos à nossa vida a maturidade de saber que tudo é impermanente, vamos ver que nossas experiências serão mais ricas, nossos relacionamentos mais sinceros, e teremos maior apreciação por tudo aquilo que já desfrutamos."

"Também seremos mais pacientes. Vamos compreender que, por pior que as coisas possam parecer no momento, as circunstâncias infelizes não podem durar. Teremos a sensação de que seremos capazes de suportá-las até que passem. E com maior paciência seremos mais delicados com as pessoas a nossa volta. Não é tão difícil manifestar um gesto amoroso quando nos damos conta de que talvez nunca mais estaremos com a nossa tia-avó. Por que não deixá-la feliz? Por que não dispor de tempo para ouvir todas aquelas histórias antigas?"

 "Chegar à compreensão da impermanência e ao desejo autêntico de fazer os outros felizes nesta breve oportunidade que temos juntos, constitui o começo da verdadeira prática espiritual. É esse tipo de sinceridade que efetivamente catalisa a transformação em nossa mente e em nosso ser."

"Não precisamos raspar a cabeça nem usar vestes especiais. Não precisamos sair de casa nem dormir em uma cama de pedras. A prática espiritual não requer condições austeras.... apenas um bom coração e a maturidade de compreender a impermanência."

"Isso nos fará progredir."

Chagdud Tulku Rinpoche, em "Portões da Prática Budista” (texto fornecido por Henrique Terra)



Fábula “Encontro em Samarra”:

“Um criado topou com a Morte, uma velha encarquilhada de vestido preto, na praça do mercado, e viu-a fazer o que lhe pareceu um gesto de ameaça. Aterrado, o criado toma emprestado o cavalo do amo e foge para Samarra. Na mesma tarde, topando com a velha na praça do mercado, o amo pergunta-lhe: ‘Por que fez um gesto de ameça para o meu criado hoje cedo?’ E a morte replica: ‘Não foi um gesto de ameaça: foi apenas um movimento de surpresa. Fiquei espantada ao ver o seu criado em Bagdá, visto que eu tinha um encontro com ele, hoje à noite, em Samarra.’”

A deusa que há mim saúda a deusa ou o deus que há em você!

Lady Mirian Black


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